Zé
Não era direito. Eu prometi trazer a cruz nas costas, como Jesus. E Jesus não usou almofadinhas.
Rosa
Não usou porque não deixaram.
Ze
Não, nesse negócio de milagres, é preciso ser honesto. Se a gente embrulha o santo, perde o crédito. De outra vez o santo olha, consulta lá os seus assentamentos e diz: -- Ah, você é o Zé-do-Burro, aquele que já me passou a perna! E agora vem me fazer nova promessa. Pois vá fazer promessa pro diabo que o carregue seu caloteiro duma figa! E tem mais: santo é como gringo, passou calote num, todos os outros ficam sabendo.
-Na peça de Dias Gomes, "O Pagador de Promessas", há uma fonte rica de cultura Brasileira. Vemos o negócio de um milagre e o pagamento do indívidado Zé-do-Burro por meio duma promessa. A maneira de se ver o negócio entre a Santa Bárbara e o Zé importa tudo. Sua esposa, a Rosa, vê como ridículo. Ela acha que o Zé está fazendo demais para pagar a promessa e que a Santa já deve ter aceito o sacrifício que ele fez. O padre da Igreja recusa o Zé a entrar na Igreja tendo ele feito a promessa num terreirro de candomblé para a imagem de Iansã. O Zé porém é extremamente fiel à promessa que fez. Sem sequer desviar do caminho um pouquinho ele está disposto a fazer tudo que for necessário para agradar a Santa Bárbara, o que é evidente na citação acima.
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